Entre opiniões tão ásperas acerca da fé e da religião, sinto-me na obrigação de mostrar o outro lado e deixar claro, logo de início, que não sou um combatente da fé em si, mas sim de suas possíveis consequências quando não tratada da forma ideal. De todo modo, com o esclarecimento da observação, levanto a bandeira de que a fé não é de todo negativa, podendo, até mesmo, transformar vidas vazias em existências mais prazerosas.
Ao meu ver, muitos cientistas perdem-se ao fechar seus pensamentos ao que tange o universo da fé. Talvez por um completo isolamento e avanço intelectual, caem no mesmo erro de Karl Marx, que não levou em consideração a falibilidade do ser humano para a construção da sociedade “ideal” comunista. O fato inegável é que, infelizmente, desde que o mundo é mundo e o homem começou a andar sobre duas pernas, criou-se a necessidade do sobrenatural para explicar o inexplicável e sustentar o argumento principal da existência, o famoso sentido da vida. Afinal, por que estamos aqui? O que estamos fazendo? Para onde vamos? Logicamente, perguntas para as quais a ciência não possui resposta, por tratarem-se de reflexões introspectivas de cada ser humano.
A fé tornou-se o refúgio humano para o medo da morte. Em contrapartida, tornou-se também a desculpa para a perda de responsabilidade sobre a própria existência. “Foi Deus quem quis assim” e “Deus sabe o que faz” são frases que fazem tudo ficar mais fácil. Para mentes que não estão preocupadas em compreender a própria vida, a desculpa torna-se a válvula de escape e a vida, por si só, ganha outra tonalidade.
A questão principal que condeno, entretanto, é a fé sem questionamento, muito incutida forçadamente pela religião. Acreditar sem questionar tornou-se regra e foi responsável por gerações e mais gerações de fanatismo religioso, a arma que mais matou na história da humanidade. Foi justamente a falta de questionamento que gerou as cruzadas, assassinou intelectuais e que, até hoje, gera homens-bomba dispostos a tornarem-se mártires em pról da mensagem de Deus e a vida eterna no paraíso. A certeza de todos os “guerrilheiros de Deus” é plena, tão plena quanto a de qualquer cristão ou judeu do mundo atual.
Mas até que ponto a fé pode ser considerada como benéfica para a humanidade? A conclusão que chego é: O limite que marca o fim da positividade da fé é a saída de dentro do indivíduo para o contexto social. Ou seja, a fé torna-se uma problemática quando transpassa o próprio ser e se torna um aspecto de socialização. Porém, infelizmente, é impossível sequer cogitarmos a possibilidade de uma fé introspectiva o suficiente para não atingir a sociedade como um todo.
Em mentes menos esclarecidas, a fé é responsável por dar um rumo para a existência. Ela conforta, justifica e alivia. Com ela, mentes menos esclarecidas conseguem encontrar mais esperanças, menos sofrimento e entram em maior contato com a harmonia social, porém pelos motivos errados. Em mentes muito menos esclarecidas, a fé chega a ser capaz de funcionar como freio para o cometimento de atos nocivos à sociedade, pois o mundo ainda está recheado de pessoas que necessitam de um juiz observador sobrenatural para impedí-las de viver à margem do comportamento racional da sociedade. Em outras palavras: “eu não roubo porque Deus está me olhando”, ao invés de: “eu não roubo porque não quero causar sofrimento a outro ser humano”.
Porém, a tecla de “mentes menos esclarecidas” foi fortemente batida por uma questão básica: mentes de fato esclarecidas não precisam do sobrenatural para encontrar justificativas existenciais ou freio para comportamentos ilícitos. Um simples estudo e observação da própria sociedade é capaz de mostrar ao homem que ele não deve roubar a galinha do vizinho, pois o vizinho ficará sem uma galinha. O motivo é este, o comportamento de mentes esclarecidas é baseado no fato de que a sociedade deve ser regida por princípios de convivência harmoniosa, não pelo medo de um julgador pós-morte. Qualquer indivíduo que deixa de viver harmoniosamente pelo simples receio de Deus é uma arma em potencial para cometer atrocidades caso perca sua fé. O esclarecimento e estudo vêem-se necessários, mas não há interesse quando se julga que “Deus é o único caminho”.
Não defendo uma vida sem fé por si só, assim como não defendo uma vida baseada em uma fé cega e sem questionamentos. No fim de tudo, minha certeza é única: defendo qualquer tipo de fé ou a ausência desta, desde que a mente deste indivíduo seja de fato esclarecida, tratando a sociedade por regras e sentimentos humanos, ao invés de elevar nossa socialização aos preceitos sobrenaturais.
Uma boa sociedade necessita de mentes esclarecidas e voltadas para a harmonia social, esteja lá em cima um julgador ou não.
Via Controle Remoto
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